sexta-feira, abril 23, 2004
Carl Djerassi, o contrabandista
Carl Djerassi foi-se embora ontem. Tinha vindo para a estreia de "Esse Espermatozóide É Meu!", no Teatro da Trindade. O texto foi traduzido e adaptado por Luís Filipe Borges, das Produções Fictícias e fundador do blog Desejo Casar. Foi um prazer conhecer e contactar com Djerassi. Espero que da conversa de ontem, na Eterno Retorno, tenha ficado um bom registo audiovisual. Porque pessoas como ele são raras. Porque experiências como a deste cientista e escritor são únicas. Porque a sua simplicidade é infinita. Dele fica-me uma ideia, como uma chave. Quando falávamos de como é que um homem da ciência envereda pelos trilhos da ficção, ele foi muito claro na palavra que utilizou - e quem com ele fala percebe bem o valor que ele atribui à precisão das palavras - para explicar: "- Para fazer contrabando de ideias. No meu trabalho científico não consigo ter esse efeito. Mas através das minhas histórias consigo." O que me parece notável nisto é um homem, perto do dobrar dos setenta, enveredar por um novo caminho apenas para fazer contrabando de ideias. Quando, pelo que se vê no texto em cena no Trindade, não é tanto as suas ideias que importam, mas esse espaço à especulação e à interrogação, ao debate. Ou seja, e lá voltamos sempre ao mesmo, em fazer tudo o que podermos pela inteligência das coisas e dos seres.
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