sexta-feira, maio 28, 2004

lugar de nenhures

Há um ocaso nesta vida. Nos gestos surpreendidos pela paragem súbita. Somos máquinas de fazer actos. Ou julgamo-nos assim, é capaz de ser mais verdadeiro. O que é que estás a fazer? , é o santo e a senha deste salvo conduto neste contrato social que nos abriga o quotidiano. Não faço nada, consegui, gostaria de responder. Frenéticos fazedores de factos feitos. Artefactos sem engenho nem arte. Ou como dizia aquele homem estátua, parem um bocadinho, porra, deixem-se estar um bocadinho quietos, a ver se o mundo aguenta o embalanço e dura mais um tempinho. Há um ocaso nesta vida. Desaparecimento de gestos, de carne, espírito, de nós. O problema não é desaparecermos, é lidarmos mal com o desaparecimento. Com a ausência. É como se a angústia sobre o desaparecente fosse a convocatória que atribui uma presença ao ausente. Há um ocaso nesta vida. O problema é que não estamos configurados para entender o desaparecimento. Temos a cabeça cheia de merda, de mitemas, de pús, de febre amarela. Há um ocaso nesta vida. E eu estou entre cá e lá, nem lá, nem cá...

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