sexta-feira, maio 28, 2004
Homem a Dias
Ou pai de fim de semana. Ontem chegou o novo frigorífico. Com espaço para todos os actimeis que fores capaz de devorar. Com uma gaveta própria para o peixe e a carne e outra para os gelados. Anteontem fiz sopa. Enquanto a fazia ouvia-se a máquina de lavar. Os tempos cruzavam-se. Pelo meio, ainda dei uma olhada no Mónaco-Porto. Vi quase nada do jogo. Não porque fosse forçoso, estava ocupado com outras tarefas mas poderia ter-me desocupado. Creio mesmo que me organizei de forma a não ter de passar por ali. Não me apetece falar de política mas dá-me nojo ver aquele empandeirar em arco de suas excelências. Dói-me aliás ver o presidente que eu tanto elegi a prestar-se àquelas cenas. Amanhã quando se quiser investigar a sério os apitos que não apitam ou os tenebrosos jogos de influência por onde se dilui a esperança que cada cidadão tem no regime democrático que perfilhou, não assobiem para o lado. Vocês, dignissimos, estiveram lá. A fazer metáforas. A gritar olés. A saltarinhar. A muito isto e muito aquilo, tudo ao rubro. E não me venham falar da mistica do futebol. Aos doze anos com a minha camisola com riscas verdes e brancas eu era o Yazalde lá da rua. Adoro correr atrás de uma bola. Tirei manhãs de domingo para ir ver o Oriental jogar com o sabia lá eu quem. A questão não é essa. Aliás nem há questão. E daqui a pouco - espero que temporariamente- nem haverá país. A ética já está a saque entretanto. O cartaz da Força Portugal com aquela plateia toda a saltitar como se estivesse num estádio diz tudo sobre a artilharia pesada que vai ser utilizada neste país do futebol. Mas não assobiem para o lado. A única coisa que eu peço é que não assobiem para o lado. E era eu que não queria falar de politica. Ou queria falar-vos de outra politica. Daquela que leva um homem, enquanto no lume apura o feijão verde naquele caldo de batata e cenoura, a encostar-se à varanda e a prolongar-se no horizonte, sobre o castelo, sobre o corpo deste vale que vai do Martim Moniz até ao rio. Estou a preparar a casa dos Peter Pans. Do Peter Pan Grande, ele. Eu sou o Peter Pan Pequeno. Talvez por isso a imagem marcante de todo este Mónaco-Porto foi o recolhimento de Mourinho com os seus dois filhos, a saborear a vitória. Amanhã, daqui a uns anos, aqueles dois poderão ir buscar a cassete video do encontro e sentirem-se eles próprios, verdadeiros campeões. Entre a Graça e aquele Estádio do Mónaco de onde partia todo o ensandecimento, é também esse o único momento que guardo.
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