quinta-feira, junho 03, 2004
A Palavra Alongada
Foi a Tampere e escreveu-nos notas de viagem naquele teclado nórdico, estranho e sem acentuação. Ficámos, à espera de um regresso, de uma escrita promenorizada, acentuada. Havia, já disse, apontamentos de viajante, como este. E agora, que voltou ao calor e aos acentos, sentamo-nos momentaneamente numa escrita cuja grafia outra é também o relembrar que não ee esta a uunica maneira possiivel de escrevermos.
Talvez seja mais econoomico utilizar os acentos mas esta reiteracaao da vogal ee como que um eco que se cola ao prooprio corpo da palavra e que lhe daa um incriivel alongamento de sentido. Vemos a palavra alongar-se e nesse prolongamento de mateeria, de palavra, preencher um outro espaço. Um outro espacco que o acento diz naao ser seu mas que, bem vistas as coisas, naao se percebe porque naao deveria ser. A minha sombra também me pertence, faz parte do meu espaço vital e se algum dispositivo me viesse roubaa-la (sim, claro que me lembrei agora desse A Sombra de um Homem, como podia esquecee-lo) eu ficaria um pouco menos do que desassombrado. Dessombrado. E sem saber o que isso ee ecoa-me como uma maldicaao, uma praga.
A palavra que se acentua ee no fundo uma palvavra que se alonga, duplicando-se. E se ee assim essa palavra seraa mais exacta, ou mais exactamente excessiva, acompanhada do seu eco, do que, aquela que resulta de uma parcimónia gráfica, ditame de uma economia qualquer, subtraída à sua extensão.
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