Acordo imensamente feliz ao ler o artigo cruel - é ela o que o diz, embora fique na dúvida se ela não começou por ser cruel consigo mesma - de Maria Belo sobre o Partido Socialista do pós Eduardo Ferro Rodrigues.
Descubro o mesmo na crónica de Eduardo Prado Coelho (que pena tenho de escutar ali um ressoar de Carrilho, não por a condição de
ressoador ser de alguma forma indigna para Prado Coelho, esse é labor que ele sempre tem exercido com mestria e eficácia política, sim porque Carrilho, que tal como Ferro em relação às politicas sociais recordarei como o primeiro homem que conseguiu implementar uma política cultural em Portugal, mereceria já ter trabalhado essas
afonias que também o caracterizam).
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Não estou em mim de contentamento ao verificar esta racionalidade cartesiana, este cavalheirismo político,
por favor, com licença, o senhor estava primeiro, por quem é, liderar um partido tem de ser feito com a mesma elegância com que se arruma o carro, se entra num mictório ou nos fazemos a uma via rápida.
É um outro complemento daquela breve noite em que, nas espaldas da República, Durão e Santana voltaram a dividir o mundo, o pequeno mundo onde vivem, ou ainda, daqueles dias longos, mais de quinze, em que Sampaio ouviu os doutores do Reino e se negou a ouvir o povo, como se dissesse,
eles não sabem em quem votam, como se se olhasse no espelho do Palácio e, batendo no peito compungido exclamasse,
Pai, eles nãos sabem em quem votam.
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Não estou em mim de alegria. Os socialistas libertaram-se de Ferro, este libertou-se dos socialistas, de Sampaio, tanta libertação exulta-me, esta
é a madrugada que eu não ansiava, assim, cativa, Vitorino, Sócrates, Lamego, Jorge Coelho, os mesmos que antes poderiam ter avançado, sem ironia meus corajosos e valorosos camaradas, amanhã um deles provavelmente irá mandar no partido e não irei rasgar o cartão, eles já os fazem de plástico para isso, mas hoje revolto-me e zombo com a política do
se faz favor, com licença, por quem é, eu estou estou prestes mas se o senhor se quiser prestar, talvez alguém lhes diga que nós estamos a olhar para eles, que sempre estivémos a olhar para eles, e que somos humanos, temos alma, vísceras e sangue, e embora estejamos habituados não gostamos quando somos até nisto preteridos, até nisto,
sermos representados.
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E depois, porque
o ser preterido é condição e estado, voltaremos a sê-lo quando se escolherem com base no critério de
o lider em que nós confiamos, e tudo isso estaria certo se não fosse uma segunda maneira de
tudo estar errado outra vez e de aquilo em que nós confiamos ser
apenas aquilo que eles pensam sobre a confiança que depositamos, tal e qual como os exploradores de share na televisão que asseguram ao tio Balsemão, ao Paes do Amaral e ao Morais Sarmento que aquilo que eles têm dentro da cartola é
o que o povo quer,
o povo somos nós, nestes ambientes e assim a palavra povo, de esquerda ou de direita não dói nem ressoa nem ressuscita antigos mitos, somos todos povo consumidor, consumido, o próprio acto em objecto se transforma, poderiamos citar Braudillard, Watslawick,
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Foucault, Hannah Arendt, Eduardo Lourenço, da mesma forma que eles nos citam a nós, poderíamos citá-los e tu agora olhas-me nos olhos e dizes,
deixa-te de merdas tu não estás nada contente, exultante, alegre, tu estás é em carne viva, amargurado, e eu respondo-te,
não, nem penses, não sou eu que estou em carne viva, disso já me livrei, é o meu pensamento, ele sim sofre quando se deita, quando desperta, sente-se traído, espoliado, roubado, olhas para mim incrédulo,
tudo por causa do Sampaio, perguntas, não, Sampaio não é importante, não fosse inconstitucional eu dir-te-ía exactamente o que penso dele, é in anti constitucional dizer-te o que penso de um Presidente cuja história só poderá em verdade propor-lhe o cognome de
Trapalhão.
1 comentário:
É isso, nem mais nem menos.Bravo!!!
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