terça-feira, julho 13, 2004

Matemática Aplicada à Politica no Reino de João Prestes

Acordo imensamente feliz ao ler o artigo cruel - é ela o que o diz, embora fique na dúvida se ela não começou por ser cruel consigo mesma - de Maria Belo sobre o Partido Socialista do pós Eduardo Ferro Rodrigues. Descubro o mesmo na crónica de Eduardo Prado Coelho (que pena tenho de escutar ali um ressoar de Carrilho, não por a condição de ressoador ser de alguma forma indigna para Prado Coelho, esse é labor que ele sempre tem exercido com mestria e eficácia política, sim porque Carrilho, que tal como Ferro em relação às politicas sociais recordarei como o primeiro homem que conseguiu implementar uma política cultural em Portugal, mereceria já ter trabalhado essas afonias que também o caracterizam). Não estou em mim de contentamento ao verificar esta racionalidade cartesiana, este cavalheirismo político, por favor, com licença, o senhor estava primeiro, por quem é, liderar um partido tem de ser feito com a mesma elegância com que se arruma o carro, se entra num mictório ou nos fazemos a uma via rápida. É um outro complemento daquela breve noite em que, nas espaldas da República, Durão e Santana voltaram a dividir o mundo, o pequeno mundo onde vivem, ou ainda, daqueles dias longos, mais de quinze, em que Sampaio ouviu os doutores do Reino e se negou a ouvir o povo, como se dissesse, eles não sabem em quem votam, como se se olhasse no espelho do Palácio e, batendo no peito compungido exclamasse, Pai, eles nãos sabem em quem votam. Não estou em mim de alegria. Os socialistas libertaram-se de Ferro, este libertou-se dos socialistas, de Sampaio, tanta libertação exulta-me, esta é a madrugada que eu não ansiava, assim, cativa, Vitorino, Sócrates, Lamego, Jorge Coelho, os mesmos que antes poderiam ter avançado, sem ironia meus corajosos e valorosos camaradas, amanhã um deles provavelmente irá mandar no partido e não irei rasgar o cartão, eles já os fazem de plástico para isso, mas hoje revolto-me e zombo com a política do se faz favor, com licença, por quem é, eu estou estou prestes mas se o senhor se quiser prestar, talvez alguém lhes diga que nós estamos a olhar para eles, que sempre estivémos a olhar para eles, e que somos humanos, temos alma, vísceras e sangue, e embora estejamos habituados não gostamos quando somos até nisto preteridos, até nisto, sermos representados. E depois, porque o ser preterido é condição e estado, voltaremos a sê-lo quando se escolherem com base no critério de o lider em que nós confiamos, e tudo isso estaria certo se não fosse uma segunda maneira de tudo estar errado outra vez e de aquilo em que nós confiamos ser apenas aquilo que eles pensam sobre a confiança que depositamos, tal e qual como os exploradores de share na televisão que asseguram ao tio Balsemão, ao Paes do Amaral e ao Morais Sarmento que aquilo que eles têm dentro da cartola é o que o povo quer, o povo somos nós, nestes ambientes e assim a palavra povo, de esquerda ou de direita não dói nem ressoa nem ressuscita antigos mitos, somos todos povo consumidor, consumido, o próprio acto em objecto se transforma, poderiamos citar Braudillard, Watslawick, Foucault, Hannah Arendt, Eduardo Lourenço, da mesma forma que eles nos citam a nós, poderíamos citá-los e tu agora olhas-me nos olhos e dizes, deixa-te de merdas tu não estás nada contente, exultante, alegre, tu estás é em carne viva, amargurado, e eu respondo-te, não, nem penses, não sou eu que estou em carne viva, disso já me livrei, é o meu pensamento, ele sim sofre quando se deita, quando desperta, sente-se traído, espoliado, roubado, olhas para mim incrédulo, tudo por causa do Sampaio, perguntas, não, Sampaio não é importante, não fosse inconstitucional eu dir-te-ía exactamente o que penso dele, é in anti constitucional dizer-te o que penso de um Presidente cuja história só poderá em verdade propor-lhe o cognome de Trapalhão.

1 comentário:

Anónimo disse...

É isso, nem mais nem menos.Bravo!!!