Férias de pai

Destas férias direi que são trabalho, a vida que escolhi. São férias porque não me doem, não me apertam, não me provocam calos, enxaquecas, equimozes. E consolaram-me todos os dias em que te tive. É um privilégio ouvir-te respirar, meu menino. Olho-te e penso para mim, duvidando, se alguma vez fui assim tão justo, tão infante. E quando adormeces volto-me para mim e penso em ser feliz, em ser maior, em rebentar de alegria, em ir por aí vagabundeando ao som da minha utopia mesmo que para isso tenha de lhe limpar a ferrugem e o pó, dá-la por viva e dita, ou ditando. Venho aliás com um pensamento na cabeça. Amar, amar perdidamente. Amar primeiro a vida que de mim se me fez aí,em ti, da mesma dádiva de que eu mesmo uns tantos anos antes fui feito. Choro ao amar-te, meu menino, e nem sei porquê, se estou tão feliz. Mas choro, da mesma forma que me emociono quando vejo que a minha vida sem ti me atirou para junto deste rio tão ledo e triste que sou também eu ali, parte de parte, porcento, parcela, porcela, respirar. E não perguntes porque estou triste porque não estou, foi em calhando que me fiz assim, na tristeza, tanto que te digo que sou triste e estou a sorrir com aquela cara de pantomineiro que tu gostas de esbugalhar, entre nós não há segredos, posso-te dizer, sou feliz, a única dor que ainda e sempre transporto é esta responsabilidade da vida perder todo o sentido, ou melhor, da vida não se conseguir fazer em sentido quando um entre nós não conseguir ser o que devia almejar poder ser por causa da ambição desmedida de um outro. Olha-me bem nos olhos Peter Pan, esta água é a tua sede, faz-te aqui homem justo e, sem me desafadigares, terás feito mais do que aquilo que em e não de ti espero.