segunda-feira, setembro 06, 2004

Arco-Íris

batemos às portas das casas. elas estão fechadas ou entreabertas ou mesmo escâncaras. batemos à porta das casas porque queremos lá morar, abrigarmo-nos ou simplesmente repousar de tanta procura. de tanto batimento no cascalho dorido. hás-de reparar - o que quer dizer, hás-de me fazer a justiça de - que em mim se instalou um fenómeno raro, como se em mim fosse arco-íris, enquanto escrevo dos meus dedos escorre água lacrimejante, do meu olhar tropeça o mais leve sorriso. é sempre assim que me sento na ombreira de uma porta onde em baixo desenhei, a rabiscos inconsequentes, aqui pode ser que se revele o fantástico espectáculo da ilusão de um amor, é sempre assim à beira de um precipício que me sento sobre a ideia de um amor decerto precoce, amar, porque falso, porque nunca, cansa, ouviste?, cansa, eu sei, senão não falaria do arco-íris, não conheço outra forma de elevação do humano, da nossa humanidade, de encontro com a dádiva, com o sexo rúbio e incandescente do mundo-menino, estamos a falar da pele, do corpo, mas muito mais do que isso, estamos a falar do sentido da vida, ou menos do que isso, do sentido que lhe damos, que lhe conseguimos dar. à nossa vida. tenho os olhos lassos e cansados e a minha dor é esta ferida de casablanca que não desaparece, que nunca mais desaparece, há muitos e muitos anos e até sempre, enquanto, provisoriamente, temporariamente não te encontrar o lugar, o onde, o como te esquecerei. e tu dizes, e bem, mas não sou eu, não é de mim que falas, repara, olha o quando, o onde e o como cheguei à tua vida, dela me apartei, pois não, não és, não és tu, nem um nome te possui, apenas esta ideia, esta ânsia, esta louca e demorada e persistente - e no para sempre que aqui a minha vida é - vontade de dançar.

2 comentários:

PARTILHAS disse...

Não sei se é pelo modo como escreves, ou pelas palavras que atiras, lanças, arremeças... leio-te (quase) sempre à pressa, de um só fôlego!
Chego ao fim e volto ao inicio, tento adivinhar a que velocidade escreves! Por vezes apetece-me "pregar-te uma rasteira", para que vejas onde pisas. Dá-me a sensação que procuras o que tocas, já é teu mas, não vês!

Desculpa, se calhar não é assim, mas deste lado é o que sinto.

Abre os olhos, não dances de olhos fechados, mas não, não percas o sorriso! :-)

JPN disse...

e de facto assim é, escrevo à velocidade que me lês. já experimentaste ler-me mais devagar? poderia começar a escrever com mais vagar...