domingo, setembro 19, 2004
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Fui a um dos blogues de que mais gosto e comecei a ler detrás para a frente. Comecei aqui. A certa altura dei com uns textos escritos numa cela de isolamento. Prisões e hospitais, mesmo muito antes de ler Vigiar e Punir, agitam-me de uma forma descontrolada. E se nestes últimos ainda encontro um desejo de vencer a morte e a morte em nós, não consigo em relação às prisões encontrar alguma bondade. É um tema em relação ao qual se devia assumir uma radicalidade do pensamento. Ou seja acabar com a retórica escorregadia, fugidia. Não se pode, sem comprometer todo o futuro da sociedade onde estamos inseridos, construir edificios para regenerar o homem e verificar que as paredes edificadas, mais os homens que as guardam e o sistema que regula todo este funcionário executar da justiça, não só não trabalham para o regenerar, servem principalmente e quase exclusivamente para o amaldiçoar, para assegurar a eternização do homem na sua maldição.
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2 comentários:
São as velhas (novas?)teorias da prevenção positiva.
Para certos crimes (a maioria deles) se houvesse intenção de ressocializacão não haveria prisões.
Um fulano que esteja uns anitos numa prisão, se sobreviver, que condições objectivas tem, por si só, de se inserir socialmente?
São as velhas (novas) teorias do medo. Trabalhei uma vez com prisioneiros de umas outras grades, as de um hospício, aquelas que nos atam a cabeça de dentro numa espécie de rede de mosquiteiro. Lembro-me, quando estávamos no Maria Matos para apresentação de O Fio de Linha, um deles, na conversa com o público diz com naturalidade uma das frases que tinha trazido para o espectáculo: "A Sociedade tem medo da sua Doença". Descobri mais tarde, não é apenas uma frase, é toda uma maneira de conceber e percepcionar o mundo. Obrigado.
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