segunda-feira, setembro 20, 2004

O homem que sabia voar

Hoje o dia quase por mero acaso, era já noite adentro, foi depois de um beijo, recompôs-se na sua felicidade. O apicultor confessou-me um regícidio, ali ao porão de santos, o agitador de plateias declarou que sabia voar. Há quinze anos que voo, sobrevoo a cidade, os prédios, as casas, as janelas, as varandas, faço loppings e rasantes aos meus amigos cá de baixo, mas diz-me, voas como?, voo, conheço esta cidade de cima, comecei pouco a pouco a aprender a voar, angustia-me, eu sei que sou humano, a qualquer momento posso despenhar-me e cair, voo continuada e reiteradamente, vejo as pessoas, os seus gestos, as janelas semi-abertas, as persianas mal corridas, tudo isto é sonho, quer dizer, ocorre quando me deito e antes de me tornar a levantar, o resto aprendi a fazê-lo cada vem com mais intensidade e pormenor, a aproveitar os ventos, mas tu estás a sonhar?, e então, desde que aprendi a voar, não sei se tem a ver com uma experiência filha da mãe em Porto Covo, erva do diabo, talvez, não sei, apenas sei que voo e que a minha vida seria bem menos vida se não voasse sobre esta cidade, se quando quero, não me alasse e voasse .

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