terça-feira, setembro 14, 2004
Isabela
Já Agosto fechava o seu desgosto quando recebi o seu primeiro email. Assinava com a Paleta e o Raul. Ao fim de 41 semanas de liquido amiótico, sem poder justificar mais o seu ir deixando-se ficar, foi obrigada a apresentar-se neste mundo. E segundo a mãe, embora se deva dar aquele desconto natural a quem está embasbacada pelos mistérios da natureza, tem propriedades analgésicas: "a alma e o corpo esqueceram todas as dores quando apareceu este serzinho coberto por uma pele cinzenta, amarela e lilas, a enroscar-se na minha pele". Faz-se em mim memória. Ainda me lembro do dia em que a Paleta me contou que ía para a Colômbia trabalhar na Unesco, no apoio às ONGs. Das cartas que nos escrevia, a todos, traços de um país dividido, martirizado, fraticida. Um país de beleza feito, beleza natural, beleza dos homens e mulheres que o povoam. Um dia quando veio para um Natal, Ana Sousa Dias sacou-lhe a história, devolveu em formato de pequeno ecrân a tranquilidade desta psicóloga apaixonada pela musicoterapia que tinha mudado de meridiano. Sou um provinciano, custa-me a imaginar que ela está todos os dias, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas, a ligar-se por fios uns mais invisiveis que outros, a esse grande mundo telúrico e corajoso que é a América Latina mas, primeiro o Raul e agora a Isabela, os dados estão lançados, não somos apenas da terra onde está enterrada a nossa placenta, também daquela que nos ama, nos empranha e frutifica; agora teremos de ser nós, principalmente nos primeiros anos, a incluir a Colômbia nos nossos destinos de mundividência. Isabela nasceu em Bogotá, Raul, seu pai, puxou-a, ajudou-a, amparou-a. Deu-lhe talvez a mão. Também eu agora, num abraço comovido à Paleta, ao Raul, te estendo agora a mão, pequena Isabela...
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1 comentário:
Uma enorme verdade (quem já foi estrangeiro sabe isso): ama-se igualmente a terra que nos acolhe :-) Beijo
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