quarta-feira, setembro 22, 2004
Rua do Mundo
Vou à Rua de São Boaventura, à eterno. Detenho-me por acaso, no acto criativo de Marcel Duchamp. E há lá coisas que sejam por acaso? Duas ou três linhas adiante percebo logo que não, é um seguimento da conversa que deixei no prazer inculto do Possidónio C. . Diz Marcel D. - ou se não diz fui eu que li mal, acontece-me muitas vezes - que há qualquer coisa dessa experiência mediúnica entre o autor e o espectador que se escapa ao domínio do primeiro. Tudo se escapa. Tudo se escapa entre os dedos. Deixo escorregar o livro para a cesta de verga e na passagem agarro numa capa que me chama a atenção. Por breves momentos. Deixo-a novamente tombar. Sem algum ruído. Os livros ressoam mas não agem e muito menos se desfazem em som. Mas há algo, uma porção reticular de pó, de poeira, que vem entre os meus dedos e o levantar da mão, criando um lastro, digo, um rasto. É possível pois seguir, e até perseguir, uma mão, não já a mão que escreve, mas a mão que se enturmou com um livro. O que não é perseguível é a marca de uma paixão. Concordo contigo, e nem concordo, prostro-me diante da sabedoria que esse teu dizer enunciava, há um coma da razão em tudo o que vejo, em tudo o que toco, em tudo o que sinto. É prudente agora que me separe dest'outro que em mim escreve para manter a minha unidade. Não estou em risco nem sequer em perigo, mas é da melhor prudência metodológica que não perturbe com inadvertida poésis a quimica do mundo.
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3 comentários:
Gargalhada forte. Muito forte. Obrigado
Joaquim. Parece que alguém ameaça deixar Helsingfor. Usa as tuas influências. Não pode acontecer, não achas?
Não vai acontecer, Luís. Mas gostei desse pedido para usar as minhas influências...não que as tenha, mas soube-me bem ouvi-lo. abraço
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