Aulas de cinquenta minutos

L é professor, professor de Educação Física. Formado no INEF, assistiu à mudança para ISEF e depois, Faculdade de Motricidade Humana. O estigma do professor de ginástica é enorme, diz-nos. Ele próprio só descansou os pais quando se licenciou em Sociologia. Agora sim, agora o L. é um doutor, deve ter pensado a sua mãe. Que se for tão doce e amável quanto o L., decerto terá dito isto com um sorriso que perdurou sete dias e sete noites na sua face. Mas ainda o estigma, porque ele exarceba as mentes. Os seus colegas, Engenheiros da Motricidade, fazem tudo para mostrar que são engenheiros e doutores deste reino da mula russa. A última que inventaram: As aulas têm de ser múltiplos de cinquenta minutos, nem um minuto a menos. Como as disciplinas à séria, as ciências. Os dez minutos do banho acabaram. Todos os anos, há três, que L. vota vencido. Bem argumenta que ninguém gosta de ir todo suado depois de noventa minutos de piparotes, cambalhotas e saltos mortais. Que as meninas já são umas mulheres e que tendo os seus segredos e acontecimentos, não se sentem bem na sua pele. Para estes engenheiros, isto são coisas do L. O que é preciso é que todos saibam que as aulas dos senhores engenheiros da motricidade são múltiplos de cinquenta minutos. L não pode ir contra a torrente. Os balneários ficam vedados e fechados por ordem deste concílio de professores de ginástica, como gosta de os chamar L. Todos os anos, há três, que vota vencido. Com declaração de voto. Não se julgue que L. é um cão açaimado, furioso, porque nunca o reconheceriam assim na rua. Diz coisas duras com um ohar ameno e fá-lo porque está a defender o interesse dos miúdos. E dar-lhe-á um grande prazer quando um encarregado de educação mais exigente puser um ponto final neste absurdo. Nessa altura L. exibirá as suas três declarações de votos.