quinta-feira, outubro 07, 2004

Eu ainda sangro quando ela me fala. E então, se me pede coisas absurdas, como se um terrível incidente de casablanca nunca se tivesse passado entre mim e a imagem que tenho dela, ainda latejo mais. Apetecia-me dizer-lhe numa voz inodora, por favor, não tornes ás perguntas que abrem as portas à minha melhor insinceridade, não posso. Falámos pela última vez nesta vida, nesta terra, neste mundo e tu sabes onde. Não se pode ir a Casablanca, e eu fui, e voltar para falar do tempo; dos filhos da vizinha; da roupa nos pátios, dos pardais no cimo dos telhados. Desta Lisboa velha, enrugada, amarelecida pelos lampiões nocturnos encostados às esquinas, às fachadas. É tudo apenas uma questão de tempo. A terapia do tempo. Há-de florir em mim de novo o mundo, hei-de ter mais uma vez uma manhã sobre a cama, hei-de ainda nesta vida encontrar-te nos meus olhos, levar-te pela mão. Hei-se acordar e ser feliz e repousar novamente os olhos sobre o rio, quero estar aqui diante desta visão magnífica enquanto espero por ti. E desta vez será a última ou pelo menos, pela última vez. É tudo apenas uma questão de tempo.

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