quinta-feira, outubro 07, 2004

Ficções

Dar a vez e voz ao real. No que isso tem de escorregadio, sei. Mas, dar a vez e a voz ao real. Já sabíamos que o ser na linguagem difere, difere até de si mesmo. O que nos faltava conceber: este ser entediado com a vida, vivendo-a na exacta medida que lhe permite a narração dessa mesma vida. Estamos a falar na esplanada, a trocar mensagens no telemóvel, seja o que for, surge a pergunta, postas tu ou posto eu?. Somos nós mesmos os personagens que nos narram. Olhamos para a nossa própria vida como se de uma narrativa se tratasse. Não admira que nos cansem tanto os gestos quotidianos. O arrumar, o limpar, o dar à vez, o repetir. Nada disso tem, na efemeridade dos blogues, algo substantivo do qual se possa extrair narrativa, certidão poética.

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