quarta-feira, novembro 17, 2004

Halogenetos de Prata

Dizes-me, enquanto me salvas a vida dando-me cinco bolinhos de coco e um cd do Pantera, que os halogenetos de prata são sensíveis à luz e que ao receberem-na fragmentam-se mais ou menos - a expressão é minha e faz-te sorrir, dizes, é rasteira mas por isso, passa - e é isso que faz as partes escuras e claras da fotografia. A essa altura já sorrimos os dois. Esta noite no Cinearte tinha começado mesmo por aí, por um pedido de socorro, tirei-te do teu pijama, da tua sensação de hoje não vou bulir e vou para casa fazer bolinhos de coco, nem tive pena por ter feito uma voz lamuriante, a minha vida mudou um pouco entretanto, congratulo-me - não é esta coisa de ter um ombro, sempre o tive, faço disso pleito a tantos ombros, mas nem sempre me senti à vontade para os convocar - para os fazer atravessar as zonas mais escuras da minha vida, rumo às mais claras, foi por isso eu sei, aquele riso em uníssono, os alogenetos de prata, com h, emendas, halogenetos de prata. Nem falo do colòdio, dizes, e eu acho o momento da noite, da nossa noite, o colòdio dissolve-se em alcool e isso é a desgraça de muita gente, não posso estar mais de acordo, essa possibilidade do alcool nos desfazer uma vida é, será, sempre, uma grande desgraça. Já me sinto, com este apontamento final, menos pária do mundo.

Sem comentários: