terça-feira, novembro 09, 2004
Puertas del Sol
Quando procuro nao procuro aquilo que procuro. Senao encontrava-o, pelo menos algumas vezes. E também, das vezes que o encontrei, nao o tinha deixado fugir assim, com tanta naturalidade. Tive essa noçao muito clara ainda há pouco, nas Puertas del Sol. Uma latino americana cruzou-se comigo. Ficámos os dois parados, ali há distância de um beijo. Nao me perguntem porque é que eu digo que era à distância de um beijo. Sei. Eram sete da tarde, a Plaza das Puertas del Sol estava cheia de gente borbulhante, eu vinha com a alma repleta de cores e entre elas o negro dos quadros da Quinta del Sordo e assim, um beijo é coisa despropositada. Mesmo, incomodativa. Era um beijo, punto. O tempo que ficámos ali, a olhar um para o outro, distava do tempo do mundo uma eternidade. A minha hesitaçao fê-la desaparecer. Avancei em relaçao ao hotel mas senti, os meus pés andavam no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Virei-me para trás para a procurar. Tinha desaparecido. Inverti o caminho indo no rasto do seu encalço. Nada. O meu coraçao nao batia mais forte, nao convém dramatizar tudo, mas estava enrubescido. De repente vi-a. Com o seu gorro azul e o seu kispo vermelho. Diante do edificio da Câmara. E percebi mais uma vez, nao era ela que eu procurava. Procurar é em mim um jogo. Um jogo para preencher o tempo, esse sim, o grande problema. Procuro para preencher o tempo em que descubro a tua ausência. Ou que nao estás ao pé de mim, o que nao sendo a mesma coisa, para o efeito, serve.
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2 comentários:
Falou de algo que eu também sinto. Esta é uma armadilha em que caímos todos nós, os prisioneiros dos afectos e da imaginação? Ou é exercício voluntário? É humano este instinto? Quantas vezes não dei por mim a olhar alguém de kispo vermelho e rir de mim mesma.
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