segunda-feira, dezembro 13, 2004

Alucinação

De repente abre-se um veio no chão e onde antes havia cimento e betão armado, surge uma montanha. Outra. E ainda outra. Um enorme pincel, manobrado agilmente por mão invizivel, arrasta pelo espaço uma paleta de cores fortes, e o verde é a primeira cor forte deste mundo. Uma betoneira chega até mim como o surripiar de um mavioso chilreio. Há um regato, um correr de água. Não imagino a paz sem este serpentear entre pedras e musgo. Abro os olhos para dentro, estou no pinhal atrás do quintal da casa da minha avó. Lembro-me das horas perdidas a ver o Grande Hotel das Termas, o Monte S. Pedro. Volto a subir a encosta, como sempre, noutros tempos para fumar um cigarro. Enquanto sonhava que era o John F. Kennedy. Sempre foi o meu herói preferido, desde os sete anos. Com o passar do tempo John Fitzgerald Kennedy, embora muito poderoso, passou a ser demasiado pequeno para a minha ambição de super-homem sobrevoando e consertando todos os pecados do mundo. Passei a ser John Fitzgerald Delano Eisenower Roosevelt Niarchos Onassis Kennedy. Como hoje eu compreendo o Calvin! A minha solidão não é de agora, vem de há muito, muito tempo, num lugar que entretanto ficou tão longínquo de mim.

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