sexta-feira, dezembro 03, 2004

Arregaçar as mangas

Há vida para além do circo, é preciso repeti-lo. Se não ficar triste, e até aliviado, por o governo ir cair, é ficar um pouco mais feliz com a decisão de Sampaio, também fiquei, fico. Não exulto, não festejo - e quem me conhece sabe o que me pelo por uma verdadeira festa, por uma exaltação autêntica - porque não sei de nada que me possa motivar esse extravazar de mim. É aliás o meu modo de arregaçar as mangas, dedicando-me por inteiro a esta lucidez de perceber que uma mentira, uma trapaça, não é mais digna por ser proferida por uma pessoa de esquerda ou até, por alguém que teve, duas vezes, o meu voto. E eu nunca disse que Sampaio estava cego. Apenas disse que, para mim, para mim enquanto cidadão, estava politicamente morto. Nem me interessa questionar o discurso e a atitude de Sampaio tentando-lhe descobrir arrazoados para uma razão incerta e desconhecida. Interessa-me apenas dizer, porque isso para mim é verdadeiramente arregaçar as mangas, que quando alguém numa situação como aquela que foi vivida há quatro meses, em vez de ouvir aquele que é, numa democracia, a base de legitimação de qualquer futuro colectivo, o povo, se prontifica a substitui-lo pela escuta de uma passerele ouvindo notáveis, banqueiros, economistas, conselheiros e senadores do reino, está, repito, para mim, politicamente morto. Esta é uma evidência de que não abdico a pretexto algum. Principalmente quando o sistema de representação a que chamamos democracia sofre alguns dos seus mais duros golpes porque cada vez mais serve para eleger os piores politicos, as piores soluções. Há também como vês, alguns combates que tomo nas minhas mãos.

2 comentários:

JPN disse...

trato-te por flor, ou flor de areia, porque assim te apresentaste, claro. e sem dúvida, prefiro eleger com g do quem com j, rs. obrigado pela corrigenda.

Anónimo disse...

"ouvindo notáveis, banqueiros, economistas, conselheiros e senadores do reino". Os mesmos e os únicos que continua a ouvir.

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