domingo, dezembro 05, 2004
Não guardo esperanças de correcção de um mal do nosso mundo
Eduardo Graça no seu Ir e Voltar escreve um texto sobre o dia em que saiu no Diário de Noticias uma manchete que enfatizava uma sindicância realizada à gestão ao Instituto do qual ele era Presidente.
Partilhei com ele, como seu assessor, uma parte das horas e minutos desse dia . Aliás, ele deve-me a mim - e à minha convicção de que o que estava a ser noticiado era irrelevante e assunto mil vezes requentado - o ter tido, na véspera, mais umas horas de sono na tranquilidade que merecia.
De facto, eram já quase duas horas da madrugada quando sou alertado para a edição online do Diário de Notícias, o que, pelo modo como o assunto era tratado, e para quem conhece minimamente o funcionamento de um jornal, garantia uma manchete para o dia seguinte. Disse apenas para quem me avisou, são situações profusamente esclarecidas, ganharam apenas espaço no chamado jornalismo de referência (O Diabo tinha andado reiteradamente a pegar no assunto).
Lembro-me bem desse dia. O caso correu as várias televisões, foi noticia enquanto serviu para o fim a que se destinava, o qual cumpriu com eficácia. Nada disso me dá muito para contar, a não ser o facto de ter estado tão próximo tanto dos protagonistas como dos jornalistas. Seria por isso apenas mais um entre tantos casos daqueles em que o jornalismo das fontes, por excesso de confiança, por querer ter a caixa, se prestou a um serviço diferente daquele que está na base do protocolo de confiança entre um jornal e os seus leitores.
Creio aliás que nem é por premeditação que os jornalistas depois de se prestarem ao espalhafato não guardam, na agenda do acompanhamento destes seus casos, aquela pergunta verdadeiramente merecedoura:"- O que foi feito de tudo isto? Que consequências?".
É por vergonha, creio.
Mas de tudo isso já me esqueci. Recordo-me apenas da dignidade com que Eduardo Graça respondeu ao DN, e de como me tocaram, pela sua amarga lucidez, as seguintes palavras:
Não guardo esperanças de correcção de um mal do nosso mundo que, a coberto da nobre missão do jornalismo, atribui plena credibilidade e direito de cidade às fontes, ensaiando o julgamento público de instituições e cidadãos honestos, sem direito de defesa.
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