domingo, dezembro 05, 2004

Nada se perde, tudo se transforma...

Ainda sobre o assunto do post anterior, há uma pequena nota de Eduardo Graça sobre um truque useiro e vezeiro na prática jornalística, o de afirmar a tentativa de contacto prévio que, de facto, não acorreu, que me lembra um curioso episódio ocorrido comigo e com um jornalista do Independente, curiosamente a propósito do mesmo tema. Eu não tinha a meu cargo nenhum tipo de contacto com a imprensa, esclareça-se. Foi fortuitamente que um dia, era já perto das 20 h, ao sair do gabinete o telefone da secretária do presidente tocou. Atendo. Do outro lado a voz tremia, era tão evidente que não estava à espera de encontrar alguém. Desfez-se em gentileza, sou Pedro Guerra do Independente, sabe, é que temos aqui declarações de trabalhadores sobre irregularidades, vamos fazer um trabalho sobre isto e gostaria de ouvir o Presidente, tenho de acabar o artigo dentro de meia hora. Tentei fazer o contacto mas naquele momento foi impossivel, disse-lhe isso e que de certeza nos próximos quinze minutos alguém falaria com ele, pelo que fiquei com o seu número de telemóvel. Nem demorou cinco minutos a que eu telefonasse de novo para o Pedro Guerra para lhe dizer quem é que, sobre esse assunto, falaria com ele e para lhe dar o móvel dessa pessoa. O jornalista já tinha o telemóvel nas mensagens. Eu achei aquilo normal. Mas alguém mais experiente nestes contactos com a imprensa suspeitou logo ali do truque. Telefonámos para a redacção e confirmaram-se as nossas suspeitas. Pedro Guerra há algum tempo que tinha saído e tinha deixado o artigo já feito. Mandámos então um email para o jornalista e para a redacção a denunciar o sucedido. Nunca me esquecerei da consequência, nessa noite estreava no Teatro da Trindade o Magnífico Reitor, o texto de Freitas do Amaral : a edição do dia seguinte do Independente trazia, em lugar de destaque na edição do jornal, duas páginas inteiras apenas preenchidas com fotos do glamour da estreia, sem texto nenhum, só com legendas. E do texto do jornalista, nem rasto. Nada se perde, tudo se transforma.

Sem comentários: