quarta-feira, dezembro 22, 2004

O lugar da "ideia de mulher"

Escrevi este post expondo-me na minha gangrena de bicho. A Leonor deu-se conta da presença dessa visão tão estranha. Também eu, que com ela convivo. Descobri ontem no entanto que com a estranheza da ideia de uma mulher se passa algo peculiar. Quando a penso, e a ideia de uma mulher é uma imposição, uma consequência de um determinado gesto, não é um acto deliberado, não me deito na minha cama e penso, agora vou pensar numa ideia de mulher, não, é na presença real de uma mulher em mim, dentro de mim que eu velozmente sou obrigado a pensá-la na urgência do próprio gesto que, seguintemente, lanço para o seu corpo, do olhar com que a desmanso. Dizia, explicando o peculiar que é ter uma ideia sobre a mulher, quando a penso, ela é estranha, objecto de estranheza, de fantasmagoria, de uma violência, e a natureza e os seus actos serão sempre, no natural que isso é, gestos de violência. Mas quando a escrevo, por mais estranho que essa ideia possa ser e por mais estranheza que possa provocar, ela, a ideia de uma mulher, passa a ser menos violenta, menos estranha, menos objecto de estranheza. A escrita tem esse condão de tirar a estranheza do meu mundo visto pelo lado de dentro e de a recolocar aí, no meu mundo visto pelo lado de fora.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eis as virtualidades da ficção-escrita, para nos transformarem o real... E qual real menos real? E qual escrita mais bicho? L