quinta-feira, dezembro 30, 2004

Optimismo no Estado Puro

"Entro em casa. Não sei se devo dizer que de tempos a tempos me vem uma espécie de nitidez que desfoca as eventuais belezas do mundo e me deixa atolado na sensação de não haver sequer beleza, nem coisas ou lugares onde ela pudesse, até por ilusão, sugerir uma crença em si mesma. Eu sendo menos que zero nas contas que fazemos cada dia, nenhum desejo, nenhum centro, estar ou não estar, ser uma peripécia orgânica, isto, a que chamamos eu, despromovendo o que outros, devotados toda a vida e com tanto gosto e segurança, afirmam ser o máximo da realização, afinal, eu, nalguns dias, desfraldando o sentimento da descrença e da desgraça porque tudo parece o que é. O acto de respirar considero-o então optimismo no estado puro e só aí, o pensamento todo aí como lenha na lareira, consigo despreocupar-me e reacender, de novo, a possibilidade da beleza. Sento-me e continuo a respirar, agora respiro." [Agrada-me que dali, de Pitões das Júnias, ou de uma Graça tão próxima, se tenha sentido este fôlego clarificador de um ar que comummente respiramos. Quando escolhi o nome deste blogue, escolhi-o num momento de fortíssimadescoberta da minha incompatibilidade com os demais. Há no entanto, como tão bem escreve agora o guardarios, uma força pura, nascente e originária no acto de respirar que ultrapassa todos os arremedos de solidão e desafecto que nos possam assolar.]

1 comentário:

Anónimo disse...

o teu respirar é um acto puro, forte, onde virei sempre.
nr