sábado, janeiro 22, 2005
De novo, na Terra do Nunca
Sentou-se na cabeceira da cama-sofá e lembrou-me:
- Então, Capitão Gancho?
- O que é que disseste?
- Estamos na Terra do Nunca, não sabes?
- E tu, quem és?
- Sou o Peter Pan.
Não sei se a mãe lhe disse alguma coisa. O que sei é que estava meio expectante em relação à forma como ele viria. Da última vez tinha feito um berreiro. Desço cá abaixo e vejo inclinar-se na cadeira nova do carro, olhando com olhos sorridentes. Reexisti, se tal é possível. Desde aí até ao deitar foi a mais amável das criaturas. Sempre conciliador:
- Queres ver o Marco comigo?
- Tenho de ir fazer os douradinhos, Pedro.
- Só um bocadinho assim. - E aperta o polegar contra o indicador.
- Depois não comes e ficas do tamanho de um ratinho e o gato das botas...
- Eu sou o Peter Pan, Pai, o Gato das Botas é de outra história.
- Pedro?!
- Está bem, pai, mas então vou brincar contigo para a cozinha...
E ao deitar:
- Posso dormir contigo, Pai?
- Não dá muito geito, pois não? O pai desmanchou a cama e ainda não a fez.
- Não faz mal, o pai depois quando fizer leva-me.
Amo-o. É o amor mais bonito da minha vida toda. Gostaria de um dia conseguir amar assim, com este despreendimento e alegria, uma mulher.
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3 comentários:
Depois de as minhas filhas nascerem - nasceram duas, no mesmo dia, dava comigo a dizer isso mesmo. Se eu conseguisse amar um homem como as amo! Nada ser mais importante que vê-las, que sentir que estão BEM. Depois tb pensava que "Afinal há paixões que nunca acabam!". Lembro-me das primeiras separações e de como era "estranho" andar pela rua com elas sempre na mente -como se tivesse uma fotografia à minha frente.Descobri outro universo - dentro de mim, em termos de afectos (talvez fosse egoísta).
Mas as relações entre adultos têm vícios. É difícil instalar o incondicional.
:-)
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