sexta-feira, janeiro 28, 2005

Distinção, ou da natureza dos sonhos prometidos

Ao Júlio e ao LuísEu queria que houvesse uma esquerda em Portugal que sonhasse que poderia mudar o mundo.Era nessa que eu votava.” Não se deve de facto confiar nos que voltarem a prometer uma coisa assim. Mas guardem, tanto como eu, a dúvida: sem o sonho teriam eles conseguido libertar-se da monstruosidade? Terá sido o sonho que nos trouxe estes monstros?Não prometerás. O pecado não é sonhar. É prometer. Pode haver na promessa um desejo genuíno de partilha, de comunicação, mas a verdade é que os homens e as mulheres deixam de sonhar no momento em que param para prometer. Em que nos querem fazer sonhar. A mim agrada-me, como uma peça de um puzzle há muito desavindo, que assim seja. Uma terra sem sonho parece-me um pesadelo tão grande como um mundo onde todos nos tentam convencer da força dos seus sonhos.A promessa enquanto cristalização do sonho. Ou a ideia de que os sonhos viram pesadelos quando deixam de ser alimentados pelo sonho. Que viva Zapata! Uns prometem. Outros sonham. Não deixemos de confiar por isso nem nos sonhos, nem nos sonhadores. Apenas naqueles que deixaram de sonhar.

1 comentário:

cbs disse...

"Eles nem sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida,
e sempre que um homem sonha,o Mundo pula e avança,
como bola colorida,
entre as mãos de uma criança"

O pesadelo nasce da imposição dos sonhos de alguém,
e da restrição dos sonhos dos outros,
não do sonho, mas da força.

A mesma força que deve proteger os sonhos, não reduzi-los. A Força chamada Estado.