sexta-feira, janeiro 28, 2005
Todo o mundo é composto de mudança
O primeiro grande fenómeno da minha idade adulta foi este : perceber que o mundo não quer ser mudado. Ou melhor, aperceber-me que mudar realmente o mundo não é exercer alguma acção violenta de transformação, mas compreende-lo, aceitá-lo, respirá-lo. A primeira vez que me apercebi isso estava no Vale do Silêncio, nos Olivais. Orientava com o Pedro Alpiarça sessões abertas de expressão dramática no meio do vale. Era o Vale mais Vivo. Tinhamos uma equipa de rua que ía ter com as crianças e os jovens e os desafiava a vir participar nas sessões. Muitas vezes estes estavam sentados a falarem e a conversarem. Ou simplesmente a saborearem o Vale.
"- Querem vir fazer alguma coisa?", ou "Venham connosco, não estejam aí sem fazer nada" era uma maneira recorrente na nossa abordagem. Um dia aquilo impressionou-me. Tinha compreendido que chegar ao pé de alguém com esse discurso muito vitamínico é dizer que o outro não está a fazer nada, pelo menos nada de interesse. Não só o desvalorizamos como também nos desqualificamos enquanto pessoas capazes de manter uma relação de respeito com ele. Não poderia haver pior entrada para um animador.
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