sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Abre os olhos para dentro, cerrando as pálpebras. Pensa no verde. Um verde verde. Um verde camuflado de mil tons. Verde-amarelo, verde-água, verde imenso. Imagina uma floresta. Altos troncos de abetos, de arbustos. O Sol irrompe pela testa das árvores. Pássaros coloridos pousam nas margens do teu cabelo. Tu pareces dali, que estás ali. Há um grito. Não podes pensar o azul sem essa imensidão vermelha, a violência. Mesmo aqui, onde o céu e a terra parecem combinar o festim, surge em forma de teorema natural, o violento que é uma força a confrontar-se com uma outra. O atrito. Estremeces. Volta a pensar no verde. Cola o verde marinho com o azul celeste. Pensa na beleza. Pensa no supremo exercício da beleza no mundo. Sem alguma limitação nem condicionalismo, pensa no supremo exercício da beleza do mundo. No seu cavalgar imparável sobre todas as coisas visíveis e invisíveis. Não pares. Tens na tua mão o segredo do universo, é importante que não pares. Se parasses agora seria terrível para a sorte dos vivos, dos dizeres da vida. A vida tem de ser bela e forte e veloz e na tua mão ela é doce, retemperada como o aço mais pujante. Por alguma razão te colocaram aqui, neste momento. Não desperdices essa hipótese. Avança nessa ciência. Não penses em ti, não penses na tarefa, na prova, pensa neles. Não é pensável nada de mais injusto do que essa condição de não viventes. Mergulha nessa tua alma de visionário. Olha o colibri, ouve como ele te chama. Absorve a luz branca das coisas que ficam transparentes, sem cheiro, incolores. Ao longe aproxima-se um restolhar, será uma cascata? Água fresca. Água fresca saindo fora do regato, salpicando a hera entrelaçada da margem. Não abras os olhos ainda. Deixa-te levar. Ouves a caruma a estalar. Estremeces mais uma vez. Respira fundo. Abre os olhos para o mundo. Onde vais tão longe que de ti já te apartaste?

3 comentários:

Anónimo disse...

I feel like I know you. I feel at home.
NR

Anónimo disse...

Partiste para onde nem tu te podes encontrar. Longe, muito longe daqui...

Anónimo disse...

Se eu pensar no azul, só no azul, sem verdes para me distrair, também me vens buscar de volta para aquela vida das gentes normais?