terça-feira, março 22, 2005
Arrebatamento
Inesperado é este desejo de colher azedas no parapeito das estradas. A vontade brusca de regressar à frente, a esse tempo que voltará a ser aventuroso e aventuroso também pelo pensamento que o incita. Do sexo abrupto no vão dos caminhos. Da lingua molhada acidentalmente pousada num campo de tojo. Ir ao tempo dos romances, o fortuito ir ao tempo dos grandes romances, Jean-Christophe. Os livros em cima da cabeceira. Kant, Hegel, Aristóteles. Jean Jacques Rousseau, O Contrato Social, o meu primeiro livro de filosofia comprado com a semanada própria. Interpretar inopinadamente tudo como se a nossa experiência bastasse para nos afoitarmos à interpretação desabrida e arrebatada do mundo. Inesperado e abrupto e extraordinário é este desejo do corpo, desconhecido da vida que o habita, estremecer. E ser espasmo na terra molhada. De mastigar o pequeno grão contido no centro do sexo de uma mulher devorando-o incontidamente até que o riso prevaleça na noite. Até que desacostumado, imprevisto, imprudente, impremeditado, o riso prevaleça na noite.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Inesperado? Ou resultante de um encontro com o teu eu, doloroso mas preparatório? Andavas perdido há uns dias atrás, incomodado com a mudança, com o arrumar das tralhas e das ideias. Fazer caber ali o que cabia aqui. Essa vontade de corpo, essa vontade de riso, essa vontade de inesperado, para que a vida volte a acelerar.
estrela
ai, ai, ai, é como um constante flasback não é, o arrebatamento. além de ser uma palavra simplesmente deliciosa encerra em si mesma coisas tão incríveis como, espasmo, estremecimento... simplesmente deliciosa essa imagem primaveril de desejar mastigar o pequeno grão contido no sexo de uma mulher... porque todas as mulheres são terra que os homens debicam, como avezinhas em busca de alimento... e quando isso acontece, a terra toda *ri-se nas flores* ... é mesmo urgente que o riso prevaleça. e mesmo na noite, claro...
ah, jean cristophe, jean cristophe... os livros despontam no nosso caminho como azedas à beira dda estrada e nós, ainda meninos, chupamos-lhe o caule. o que faz de nós seres em que o desejo do corpo se justifica no desejo de comunhão do espírito. além de que, que há de mais belo do que chupar essa seiva inesperada? beijo
Enviar um comentário