quinta-feira, março 24, 2005

Eu não me atreveria a ir para lado nenhum de definitivo sem levar este tomo. Uma das pessoas que mo deu já não está neste mundo. E merda, nunca acreditou no outro. Eu tinha vinte e um anos, era carteiro assalariado no EPA, no Aeroporto de Lisboa. Atava maços, separava cartas, abastecia os Texes, como a Manela e o Zé. Eles não eram, nunca foram, nunca quiseram ser, do ponto de vista laboral, o melhor exemplo do mundo. Estavam no trabalho no intervalo entre duas baixas. No resto eram em tudo exemplares. Até quando se decidiram casar e para agradecer a nossa prenda, um aspirador, se vestiram de José e Maria, com o electrodoméstico no lugar do deus menino. E também na poesia, na forma como a tratavam. Foi em nome dela que, num dia dos meus anos, foram à feira do Livro e trouxeram-me aquele que diziam ser, especialmente a Manela, o único poeta que restará quando o dilúvio da poesia encharcar todos os corpos. A partir dessa altura a poesia de Herberto Hélder é um lugar maior na minha vida. O Zé já cá não está, teve um ataque cardíaco num wc do trabalho, suprema e malvada ironia de uma vida. A Manela está no Algarve, numa Quinta onde as pessoas vivem à procura, e basta dizer isto como traço distintivo, viver à procura de. Estão sempre comigo quando pego no Herberto e este, nunca o abandono. A poesia deles, do Herberto, do Zé e da Manela, tornou-se um lugar maior da minha vida.

1 comentário:

blimunda disse...

esse meu e o medo do al berto estão presos com grossos elásticos. lá dentro o meu moleskine. o único que quero ter. acompanham-me para todo o lado. o meu melhor amigo aborrece-se comigo porque quando viajamos ele é que carrega a mochila onde eles viajam comigo. e muito vezes digo, eu e o al berto. eu e o herberto. com humildade de amiga. muita muita humildade. também a mim mos ofereceram... que estranha é a vida... e os reencontros que ela nos proporciona...

do leo ferre nem falo. é muito mais que uma paixão, sabes... é sangue do meu sangue.