quarta-feira, março 09, 2005
O amor a estibordo
O tempo de mudanças é um tempo tramado. De cada vez que mudo de casa revejo a minha vida. Olho para trás, para a frente e a verdade é que não sinto nenhuma clarividência na vida que tenho entre mãos. Foi assim como poderia ter sido de outro modo. Foi tudo uma questão de vento a estibordo. Ao fim e ao cabo não percebo nada. Não percebo porque me divorciei, porque me casei, porque me enamorei, apaixonei. Não percebo perceber. Dou por mim a pensar se hoje me divorciaria e não sei encontrar uma resposta forte, branca, indubitável. Eu pensava que nos separávamos porque tinhamos deixado de crer no amor. É mentira. Separamo-nos, divorciamo-nos pela mesma razão porque casamos, porque nos juntamos: porque queremos desesperadamente acreditar que o amor existe. Ainda existe. E essa é também a razão inversa porque tantas e tantas vezes nos mantemos juntos: porque descremos violentamente da possibilidade de concretização dessa amor que nos desassossega. Eu já nem sei o que hei-de pensar. Nem sei se pensar deva.