sexta-feira, maio 20, 2005
A Escola Pública e os rapazes mais velhos
A minha vida sem ler jornais não é mais dogmática. Mas é diferente. Dou por mim por exemplo a debruçar-me sobre um assunto ao fim de cinco ou seis dias. Não é apenas por querer ser progressista que nunca renego um louvor à Escola Pública. Eu fui criado numa harmoniosa relação entre o ensino privado com a escola pública. Quando eu nasci o meu pai dirigia e ensinava num externato em Mafra onde eu fui viver. A minha mãe, desde os dezanove anos - como todas as suas irmãs- era professora do magistério primário.
Mas mesmo sendo uma professora do ensino oficial, da escola pública, daquela que tinha de ter, na gaveta da secretária de madeira que estava em cima do estrado de madeira, uma régua, não exactamente uma menina de quatro olhos mas uma trave de bom pinho, foi no seu colo privado que fiz descobertas sem par. Aprendi a pôr lagartixas mortas em frascos com um líquido amarelado do qual me esqueci o nome e que ela usava nas aulas de ciências naturais. E principalmente aprendi, entre os seis e os oito anos, através de um livro da Nestlé sobre o nascimento, que nós nasciamos porque o pénis entrava na vagina e deixava lá os espermatozóides. Essa foi a minha primeira aula de sexualidade a sério. A outra, anos mais tarde, foi quando o carlos garantiu que se masturbava com o irmão e faziam pontaria ao vidro do espelho, para ver quem acertava mais próximo do alvo. Poupo mais pormenores. A cena aterrorizou-me de tal modo ao compará-la com a minha incipiente produção de esperma que a sexualidade, a minha sexualidade, foi uma história de pesadelo até muitos anos depois, quando...e poupo-vos novamente a pormenores. É por isso que eu estarei sempre ao lado daqueles, seja lá com que desenhos e artíficios, se antecipem aos rapazes mais velhos.
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