terça-feira, maio 24, 2005

O tempo que é escrever

Às vezes leio aqui que alguma coisa que escrevi deixou algum rasto em alguém. Acende-se em mim uma luz, uma pequena luz. Mas antes fui escuridão. E é nessa escuridão que me situo. O desinteresse com que escuto alguns elogios que aqui me dão é expontâneo. Não é para isso que eu escrevo. E não sendo para isso que escrevo tudo o que advém sem ser essa finalidade a que me entrego quando escrevo, parece-me de menos. Escrevo para me resolver, e não me resolvo. Escrevo para me cravar no solo, como estaca firme, robusta, e a minha fragilidade de ser em espuma faz-me esvoaçar por aí e por ali, errático. E cada vez passa mais tempo e cada vez é mais urgente escrever e cada vez é mais penoso fazê-lo porque é tempo daquele tempo que, assim, não será nunca. E cada tempo em que escrevo é tempo sentado nesta cadeira e cada tempo sentado nesta cadeira é tempo que não passo distante desta cadeira. Há um vazio há minha volta e esse vazio não são pessoas, sou eu. O vazio que há à minha volta não é à minha volta, é dentro de mim.

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