sábado, junho 18, 2005
20 anos
Conversa de café. Os nossos pais (mesmo os que ainda não tinham consciência política nos idos de Abril) viveram a ilusão da liberdade. A minha mãe, provinda de um Alentejo de mentalidade remota e onde só os desafogados (muito poucos) comiam iogurte, não pôde estudar Enfermagem. Assim, viveu a ilusão da liberdade e da libertação. Que quando saísse de casa encontraria um amor, encontraria uma hipótese. Acreditava na felicidade.
Eu e os meus amigos de 20 anos não acreditamos na felicidade, porque para nós a felicidade não é pessoal. Acreditamos em momentos mágicos e em pessoas com princípios. Temos tudo o que podemos ter, mas sentimos um vazio. O truque para ter agora 20 anos é ter os poros epidérmicos bem dilatados. Sentir, para sentir a vida. Experimentamos um estado antagónico à catatonia, estando nas coisas para além da fronteira da nossa pele.
Carregamos o peso de um passado que não se compadece com sonhos colectivos.
É fácil com esta herança cair-se na apatia.
Mas não deixamos. Porque abrimos os poros, arejamos a alma e estamos atentos à vida.
Conversa de café com amigos num sábado à tarde.
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2 comentários:
Sem querer parecer maternal, afirmo que este post me comoveu. Gosto de saber que quem tem agora 20 anos "abre os poros, areja a alma e está atento à vida".
credo! não me digam que aos 30 os poros se fecham... é que então devo estar prestes a morrer sufocada!
Seja como for, eu também só acredito nos momentos.
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