segunda-feira, junho 13, 2005

A fogueira pequenina

Há trinta e três anos viviamos em Mafra. Ou melhor, na Ada-Pera. Improvisámos uma mesa comprida na garagem. Fizémos uma fogueira no quintal, ao lado da casa do tanque. Eu, o João e o Pedro andámos toda a tarde a apanhar pinhas, caruma e madeira. O meu pai encarregou-se do petróleo. Apenas um tudo nada, para avivar a labareda inicial. Comprou-se carne. Chouriços. Mandámos chamar os amigos. Veio o Sr. Miguel, a D. Belizanda e a Paulinha. O António e a Manuela. Vieram também os primos de Lisboa. Os primos de Lisboa eram a alegria da minha casa, sempre que eles vinham havia festa, mesmo que muitas vezes não houvesse festa nenhuma. Foi uma das coisas que herdei de meus pais, o desejo de festa. Imagine-se por isso a mesa comprida. Ainda me lembro do cheiro do madeirame das obras e da toalha. Saltámos a fogueira. Saltámos a vida, o fogo, a fogueira. A minha mãe deu saltos mais pequeninos. Saltava por duas. Lembro-me até, fizémos uma fogueira pequenina ao lado da fogueira grande só para a minha mãe saltar. Estava muito próximo o dia em que iriamos saber, menino ou menina? Naquela altura não havia ecografias e o percurso de amparo que é ver crescer uma semente na barriga de uma mulher. Nós esperávamos que fosse uma rapariga mas isso era por uma questão de teimosia. Éramos três rapazes, o meu pai queria uma rapariga. Como em todas as festas, esta também acabou, já a noite se rompia em duas. Os primos de Lisboa meteram-se no Dois Cavalos do Tio Joca e da Tia Beatriz e voltaram para casa. O António e a Manuela foram para Mafra, eram três quilómetros. O Sr. Miguel, a D. Belizanda e a Paulinha foram a pé, eles moravam a cinquenta metros. Nós fomos para a cama. Lembro-me que nessa altura dormia num beliche, na parte de cima. Isto é importante porque acordei por volta das nove e há altura da minha cara vejo a cara do António. -A tua mãe foi para Lisboa, para a maternidade. Foi o meu primeiro santo antónio, o meu primeiro rico santo antoninho. Nasceste mulher, há uma trintena de anos. Beijo,

Sem comentários: