Uma inclinação de arquivo

Uma vez fi-la musa inspiratória da minha presença blogosférica. Não foi algo de propositado. Adivinhei um texto, socorri-me de outro, pressenti um próximo e quando ele veio, a armadilha estava montada. Além disso aquele nome sabia-me a sabedoria, a alimento para o meu micróbio filosófico. Como sabia que ela não gostava de posts longos, comecei a escrevê-los quase sempre à escovinha. Esta inclinação de blogger não era coisa que muito me preocupasse, devo dizer. Toda a minha história tem sido assim, a minha inclinação pela vida respalda-se numa inclinação pelos lugares e pelas pessoas, por esta ordem. Tenho uma inclinação no meu café de todos os dias, na minha esplanada de sempre, até no pátio onde habito. Todos os dias ao entrar no teatro olho para o lado e inclino-me suavemente sobre um olhar que à porta me interroga. E quando lá me assomo à janela, do alto do meu terceiro andar, já é outro o olhar que me inclina. Cresci e multipliquei-me como uma torre de pisa desenvergonhada da sua inclinação. Também não sei amar como o Pedro Paixão mas essa incapacidade de amar a mim não me traz ganas ou projectos de suícidios, pelo contrário, é fonte inspiradora de uma melhor vida na tua companhia. Podererei um dia pensar melhor sobre o que significa esta inclinação, mas agora e aqui não é o onde para essa tarefa. Agora presto a homenagem a uma inclinação de arquivo. Devo dizer antes uma coisa: esta inclinação blogosférica ensinou-me muito sobre o que os outros poderão sentir aqui comigo. Por isso tantas vezes quando vejo aqui almas que se inclinam por aquilo que escrevo, já não tremo, na minha insegurança de puto-que-não-sabe-ser-amado. Nem cuido de saber se é por aquilo que escrevo, se é por o aquilo que sou que se despreende daquilo que escrevo. Só peço, que seja a mesma oportunidade de descoberta quanto o foi para mim esta inclinação há muito de arquivo. E mais uma vez, a última inspiração: " não é por escrevermos o amor que um dia não o encontraremos nesse realismo mágico."