Falso dilema

Ontem acusaram-de de ser portador da teoria da desculpabilização do terrorismo. Dormi sobre o assunto e acordei com um dilema: por um lado descarto-me da retórica da inocência política e assumo que numa democracia partilhamos todos de uma responsabilização pelos actos da comunidade onde vivemos e a comunidade onde vivo, a grande comunidade onde vivo é um foco altamente infeccioso em relação ao terrorismo; por outro lado, desde Marat, que abjuro a retórica do terror e a ideia de que poderei estar a desculpar o terrorismo aterroriza-me. Falso dilema, a culpa e a responsabilidade são conceitos diferentes. Posso responsabilizar-me sem me culpabilizar. E ai também se joga a presença da influência religiosa no pensamento e na prática política. Não somos culpados. Nem inocentes. Somos responsáveis pelos mundos que criamos. Por actos. Palavras. Gestos e omissões. As nossas democracias são melhores quando se assumem co-solidárias com os problemas do mundo onde vivemos. E fazer das nossas democracias regimes melhores é uma condição daquilo a que chamamos espirito democrático.