sexta-feira, julho 08, 2005
Já assistiu sozinho a algum filme, numa sala de cinema?
Escreve-se sobre aquele sentimento que se gera, continuando-nos por dentro e espalhando-se na corrente sanguínea, contagiando todas as células, e dentro das células todas as moléculas? Não consigo escrever sobre matéria informe e inescrutável.
O nosso interior arruma-nos solitários numa sala de cinema escura, em que nós espectadores muito mais pequenos do que realmente somos. E pequenos ainda mais nos sentimos perante o filme que está a ser projectado na tela, o que os nossos olhos percepcionam. Fazendo as contas temos quatro pares de olhos, os de dentro e os de fora.
Esse sentimento presente e insondável. As histórias tristes só no cinema, não se lhes retira sentido literário algum quando são histórias nossas. Deslocamo-nos ao cinema para nos condoermos com histórias alheias. E escrevemos-las, falamos delas, vivemo-las também com pouco assombro. As nossas não.
Os olhos de fora gostam do que se lhes der, os olhos de dentro são selectivos e pedem ajuda às pálpebras de dentro para se cerrarem com força sempre que não gostam do filme ou de um plano.
Desejo tanto finais cinematográficos. Se eles têm de acontecer, porque não valorizados pela grandiosidade emprestada de uma arte? Pensei em deixar de te falar. Estar contigo mas não proferir nem mais uma palavrinha que fosse, na tua presença. Ias perceber que era o fim. Soube depois que nunca mais te esqueceria se o tivesse feito. E que não poderíamos ter tido um final cinematográfico.
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