sexta-feira, julho 15, 2005

La cinta hablada

Há muitos anos tive uma paixão volátil, um daqueles encontros de que Loreta ou o Mamute são capazes. Não era um congresso, era um encontro. Nessa altura acreditava na força telúrica dos encontros, do encontrarmo-nos. Um encontro de teatro, de expressão dramática. Estávamos no Porto, tinha descido a Av. dos Aliados, e quando chegámos à pensão onde a organização nos tinha alojado, puxámo-nos mutuamente para a Ribeira. A Ribeira do Porto é um lugar terrivelmente mágico. Nessa altura o corpo não tinha o lugar obsessivo que ocupa hoje na minha vida e por isso passámos uma noite e uma madrugada inteira a namorarmo-nos apenas em olhares, em histórias, em beijos sôfregos, n o estreitamento dos corpos abraçados. Tudo isto poderia ter sido apenas isto. Calhou que não fosse. Quando voltei para Lisboa gravei uma cassete com as palavras que entretanto, como um jorro, nasciam dentro de mim. La cinta hablada, assim chamávamos ao correio onde, entre Lisboa e o País Basco, completávamos a nossa educação sentimental.

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