quarta-feira, julho 06, 2005

Retrato familiar

Tenho pensado muito e ultimamente nas familias felizes. Que crescem harmoniosamente. Tenho fortes razões para isso. E nem preciso de te dizer. Passei algum tempo a trabalhar em lugares onde a família quando não está desavinda, muitas vezes não existe. Vejo a foto de uma família feliz e penso onde guardarei a última imagem de mim numa felicidade familiar. Tenho muitas. Umas a preto e branco e outras a cores. Aquela que me acompanha pela minha vida fora é a dos passeios até aos Jardins do Convento de Mafra, ao fim da tarde, para ouvir os Carrilhões a tocarem. O meu pai usava umas calças de fazenda leve, uma camiseta e um casaco de malha frágil. Era verão e o mais que sopraria era uma brisa. A minha mãe usava um daqueles vestidos de algodão com que eu a achava a mãe mais cativante do mundo inteiro. O João, o Pedro e eu vestiamo-nos muitas vezes de igual. Eram roupas simples e é disso que me lembro: era dia corriqueiro subirmos todos a avenida a pé, entrarmos no Convento e ficarmos ali plasmados em música. O que era festa, e havia-a, com foguetório potente de alma, era dentro de mim. O carrilhonista era belga. Estava numa janela uns cinco metros acima de nós. Na plateia algumas cadeiras de ferro. Muito pouca gente. Uma mulher com a sua filha, a família do homem que tocava. O meu primeiro desejo de longe.

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