quarta-feira, julho 06, 2005

João do Lugar da Fonte

Gostava de vos poder falar do meu avô João. Mas não posso. Por alguma razão que não percebo bem pertenço a uma família que parece ter uma estranha apatia por escavar a sua árvore. Agora dou-me conta, sei do meu avô João as coisas que fui roubando aqui e acolá. Sei que era da Fonte porque nasceu no lugar da Fonte. Que se tornou dos Paus porque fazia brinquedos e objectos de pau para se venderem nas feiras e romarias que se fazem por aí adentro. Que o meu pai ía muitas vezes a Braga, a pé, com ele. Que aos trinta e três anos chamou o meu pai ao seu leito de morte e, sem perceber a crueldade do que estava a fazer, lhe disse, és o homem da casa. O resto não sei. Se era alto, se era magro. Não sei. Lembro-me que a minha tia Deolinda, irmã da minha avô Aurora, um dia me falou que ele era um homem bom. A mim, a maior recordação que tenho será sempre a de, no fim das longas viagens Mafra-Caldelas, passarmos ao lado do cemitério onde ele estava enterrado. O meu pai e a minha mãe iam à frente, cá atrás no banco largo do Opel Kadet, eu, o João, o Pedro e a Susana. O meu pai dizia aquilo e intuitivamente fazíamos um minuto de silêncio, que correspondia exactamente ao tempo de um pai nosso rezado para dentro.

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