domingo, agosto 14, 2005

Circulos no tempo

Ontem fui ver o ensaio de Geraldo Carne e Osso, que o Teatro Mínimo vai estrear em fim de Setembro. É uma história que escrevi há vinte anos e que agora reescrevi para o Zé Boavida, que encena o texto. Escrevi-a quando comecei a trabalhar como actor, com a Fátima Santos e o Horácio Manuel, no Teatro O Bobo e que neste momento estão no Trindade, no Ensaio sobre a Cegueira. Foi o Horácio que me desafiou a escrevê-la. Tinhamos acabado a temporada das escolas, fomos de férias e ele sabendo do meu gosto pela escrita desafiou-me. Foi a minha primeira peça registada. No tempo em que eu registava as coisas. Pensava, que o que escrevia era meu. Mentira. Nunca mais registei nada. Tenho aliás as minhas peças quase todas na net, à mão de semear. Disponíveis para quem queira conhecer, ler, fazer mas também, gamar. Estava a falar do Geraldo. Que para completar estes circulos, estes movimentos circulares no tempo e na amizade, surge na altura em que escrevo, por desafio do mesmo Horácio, o texto para um espectáculo a partir do Cerco de Lisboa. Geraldo Carne e Osso é a história de um boneco, Geraldo Marioneta, que ganha vida. Geraldo foi criado por um velho titereteiro ambulante para fazer companhia a Mariana, a sua neta, que anda com ele. Uma revisitação do Pinóquio, descobri depois. Mariana tem também uma boneca, Mariana Miúda Palhaça, que é a sua confidente. Por sugestão do Zé Boavida esta boneca ganhou vida e texto. A ideia do amigo imaginário. O tigre do Calvin. Surge um amigo, João Com Tudo com um segredo e uma magia capaz de darem vida a Geraldo Marioneta. João Com Tudo é um miúdo vadio que fugiu da escola e anda por aí, ao deus-dará. No meu imaginário: Constantino, Guardador de Vacas, João Sem Medo. E ainda querem que eu registe alguma coisa? Tudo roubado. Não há na minha cabeça nenhuma ideia, nenhum pensamento original. Nem este.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não se preocupe, a história da literatura está construída a partir de influências e frases quase literais de obras anteriores. Pense no caso dos Lusíadas, cujos primeiros versos são quase a cópia literal de versos da Eneida, de Vergílio.
O que é importante, é o que pode a nova obra trazer de particular, nem que isso esteja contido eventualmente na leitura que cada leitor/espectador faz do que lê/vê representado.