quarta-feira, agosto 24, 2005

Quando o rio cegava

Faz-me falta o Rio Cego. Era um ribeiro secante e não precisava de ser estio. Mas era fresco ali nas suas margens. Tinha musgo para os presépios. E dava geito para saltar. Nós pensávamos que éramos gigantes, que com um pulo vencíamos as suas margens. Outras vezes molhávamos os pés de propósito, só para sentir a água fresca. Vinhamos da escola, era o caminho que ia dar ao cimo da Paz, de caminho à Ada Perra onde morávamos, eu, o Caetano e o Ferradoza. Não sei onde moram esses tempos mas como estão vivos em mim custa-me a crer que morrerram. Não, não estou nostálgico. Começo apenas a procurar ao pé de mim o que vale verdadeiramente a pena. Não tenho ódio à vida que levo mas é tudo tão minguante, tão secante. Lembro-me quando o rio cego nos cegava com o reflexo brilhante do sol que incandescia nos nossos olhos. Tinha tudo, até a cegueira, o nosso rio. Havia uma árvore, creio que era uma macieira, por perto. Nós gostávamos das maças, das maçãs vermelhas.

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