quinta-feira, setembro 29, 2005

A porta da frente

A realidade em socorro das nossas ficções: na peça O Gato, que trabalho com o Grupo de Teatro da Escola de Enfermagem da Gulbenkian, um sexagenário tem um envolvimento com uma jovem de vinte e poucos anos. Há também uma mulher, da idade dele, amiga da falecida esposa deste velhote, que anda sempre a cirandar à sua volta. Quando desço as escadas encontro muitas vezes os meus dois vizinhos de baixo, ambos viúvos e lembro-me deste par. O corredor é pequeno, moram um em frente do outro. Abrando o passo para escutar melhor. São ternurentos um com o outro. Frases curtas, queres sopa, António? , olha vi estas alfaces e trouxe-te uma, estão tão viçosas, em código, para nos enganarem. Têm um cumplicidade inaudita. Nos olhares. Ele e ela entram pela casa um do outro sem pedir licença. Ela compôe-lhe o casaco quando ele sai. Ficas bem assim, António. Eu sei deles enquanto amantes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Voyeur......
Invejoso..........

Anónimo disse...

meu amigo "mestre"...
a matilde é tudo o que não quero ser...mas desejo ter essa cumplicidade no fim de vida com alguém...este é mais um facto ambíguo provocado pela imaginação do teatro...que tão docemente experimento há quase dois anos...
por tua causa...( também!)sou uma "ambígua" feliz!