quinta-feira, dezembro 22, 2005

2006 em flor

Aproxima-se o final do ano e eu sonho, como em todos os anos, que agora é que vai ser. E não vai ser, nunca é. Penso em ficar mais sozinho. Não disse mais tempo sozinho. Disse, mais sozinho. Pensei também: vou sentar-me à beira da minha árvore. Gosto de mim enquanto ideia de árvore, sempre gostei da árvore como ideia de mim. Raízes na terra, ramos, ramagem de olhos virados para o azul imenso, talvez infinito. Para mim a ternura é isso. Sentir o chão a compassar os meus movimentos e a atirar-me, como se fosse uma dança, para o vazio. Vou sentar-me à beira da minha árvore e será lá, ao pé dela, que traçarei todos os tratados de fidelidade que um homem é capaz de jurar. Penso em ficar mais sozinho ao pé de ti. Penso em ficar mais sozinho para ficar mais ao pé de ti. Farei tudo por este amor. Menos morrer. Nenhum amor que se não denegue canta a morte. Medito longa e atribuladamente em ser o ramo, a folha, a flor do teu olhar. Quero sentar-me ao pé da minha árvore e lembrar-me da poesia, de toda a poesia que a vida é capaz de incendiar. O meu filho virá até à sombra fresca que as minhas palavras na sua vida tentam, tentarão sempre, ser. Será assim, de poesia e amor, que eu viverei o meu próximo ano. Agora é que vai ser.

1 comentário:

Luís Novaes Tito disse...

Um abraço de Boas Festas