quarta-feira, dezembro 14, 2005

A Sala das Flores

Por causa de toda esta atenção dada às questões da segurança, lembrei-me de um dos meus últimos trabalhos como animador sócio cultural. No Bairro da Boavista, no projecto PATO, implementado pela Associação Arisco. Para abreviar, montei com eles uma actividade que era a Televisão Independente da Boavista. Através dela fomos falar com vários personagens do bairro. O sapateiro, antigo resistente antifascista, um personagem felliniano. O farmacêutico, o Dr. Melo, pai do actor Tó Melo, um homem empenhado e activo na construção do grupo comunitário. O Mestre Filipe, dos fantoches e marionetas. Foi este o meu alinhamento inicial, o que propús. Eles sugeriram-me logo: - Porque não vamos filmar a esquadra da polícia? Lá fomos. Ainda hoje me emociono ao ver aquele documento. O espanto com que eles olhavam as flores no gabinete do Comandante da Esquadra. Aquele era o lugar sombrio onde os seus pais, tios e familiares se sentiam em perigo. E afinal, no gabinete do chefe dos malfeitores, havia flores. Fotos de família. Um dos repórteres não aguentou e confrontou o polícia com o "arraial de porrada" que tinham dado ao seu tio, ali. Perguntou se tinha sido ali, na sala com as flores, que lhe tinham batido.

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