sábado, fevereiro 25, 2006

As leis abruptas

Já li o decálogo do Abrupto sobre os debates na Blogosfera. Não vou comentar este ensaio que se assume um pouco como uma certa sociologia de caserna, no sentido em que é muito pouco demonstrativo. Admito que haja ali um contacto com o real, em relação aos debates onde Pacheco tem de alguma forma, directa ou indirectamente, estado. Não deixa de ser curioso no entanto que uma pessoa que dedique tanto do seu tempo à blogosfera tenha dela, da sua capacidade de gerar ideias, tanta reserva. Não é uma critica, é uma observação. Até porque é interessante ir buscar textos de Pacheco Pereira de há três anos - e no Metablogue creio que temos lá alguns - e perceber o sentido de evolução deste percurso blogosférico. Pacheco até poderá ter razão. E se a tiver como é que esta degradação foi ocorrendo? No entanto há um aspecto que deveremos analisar com algum cuidado: de forma não explícita, o principal do trabalho de Pacheco parece ser a construção de uma dialética dominante, com variantes, entre o anónimo comentador e o blogger. Ou seja, se no princípio da blogosfera a ênfase era dada ao blogger (o sistema de comentários não era muito usado fora da própria comunidade de bloggers), ao seu acesso à aventura da expressão, quer dizer, da identidade, podendo por isso a actividade blogosférica ser entendida como um trabalho profundamente identitário, agora a dimensão da blogosfera como um espaço de comunicação de massas é sobrevalorizada. A focalização já não está no blogger sim no leitor e no seu estatuto de comentador. É muito mais este que cria um sentido que desvirtua a blogosfera. Se o blogger é aquele que se investe de uma coragem para participar na festa da expressão, o comentador é aquele que está mais próximo da cobardia. A reflectir. De qualquer forma não me revejo neste modo de entender a blogosfera. mesmo assinalando do facto de que há, declaradamente uma componente irónica nesta elaboração "legislativa". Voltarei a isto em breve. [Em tempo: li com mais atenção as leis do Abrupto. E creio que o mais importante não é comentá-las. Aliás, dando alguma razão à posição de Pacheco Pereira. Um dos maiores fascínios da blogosfera é essa possibilidade de cada um se trabalhar a partir da posição, da sua própria posição, desligando-se por momentos de uma hiperreactividade prevista e prevísivel. Se partirmos do princípio de que as leis do Abrupto têm assinatura, e que aquilo que nelas poderá ser mais irritante (facto a que o Abrupto terá de ser alheio, embora consciente decerto) é o peso que, por factores externos ao valor da proposta legislativa, ela pode vir a assumir, também seremos forçados a concordar que o que têm de mais sedutor é o facto de se constituirem como um exercício analítico sobre a experiência do blogger Pacheco Pereira. Nesse sentido o mais importante é cada um conseguir reelaborar a sua própria proposta legistativa. Já aqui escrevi, ao longo destes três anos alguns principios que chocam diametralmente com a posição do Abrupto. O que irei fazer, e incito os diferentes blogues a fazerem-no, é tentar perceber que leis de funcionamento da blogosfera é que eu consigo extrair da minha presença aqui durante estes quase três anos. Ou seja, não me revendo na blogosfera de Pacheco, qual é que é a minha? Creio que este exercício é fundamental para perservarmos a qualidade da blogosfera. Decerto que na atmosfera as opiniões de Pacheco Pereira irão valer de muito mais do que qualquer uma das nossas. E essa mais valia vai concerteza negar direito de existência a todo um pensar diferente sobre a blogosfera. Mas aqui não. Aqui, independentemente da mais valia de Pacheco, nomeadamente a capacidade de criar acontecimentos, e as Leis do Abrupto são inegavelmente um acontecimento, podemos contar com a nossa existência. É aliás essa uma das leis principais da blogosfera que Pacheco não soube valorizar: Aqui todos existimos e isso é um tremendo exercício de amabilidade. ]

1 comentário:

cbs disse...

A blogosfera é "um tremendo exercício de amabilidade"
toda a razão Jpn ;)