segunda-feira, abril 17, 2006
Boa noite, Lisboa
Despeço-me de ti, cidade branca. Vou deitar -me mas antes lanço uma mirada para a janela. Não sei quanto tempo vou ficar aqui. Tudo isto é uma eternidade e depois, a própria vida não passa de um ai. Tive uma longa convalescença ou, se se quiser, demorei mais tempo a apropriar-me do essencial do que o tempo que eu próprio gostaria de ter gasto nessa primeiríssima etapa. E nesse calendário convalescente muitas vezes temi uma recaída, voltar a sofrer de algumas maleitas de espirito, como a vaidade, a presunção de inocência. O voltar ao ritual dos gestos ácidos, tirar o paletó do guarda-fato, a colecção de gravatas, e ir por aí com um ar muito moderno saboreando esse estuporado sentimento de um gajo a experimentar as mil e uma formas de vender o seu semelhante ao mesmo tempo que hipoteca a sua própria alma ao diabo. Mas hoje sei, o prazer de dizer, eis a minha noite e de no superlativo que é existir assim ainda haver espaço para assinalar a tua ausência, é a única luta quero travar.
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