domingo, maio 14, 2006

KM 526

Da Universidade de Santiago de Compostela, da Aula de Teatro de Lugo, numa encenação de Paloma Lugilde. Uma história da guerra civil espanhola, construída através de trabalho de investigação e recolha por parte do grupo. Um dos momentos altos da edição deste ano do Festival FATAL. A tertúlia que ocorreu depois não podia deixar de falar sobre o que a guerra civil representa ainda hoje no imaginário e nas vidas das pessoas em Espanha. O desejo de calar, de não falar, de esperar que o tempo esqueça aquilo que a memória insiste em preservar. E o interdito não é só por causa daquilo que se viveu e que não se quer recordar. É por não se saber como resolver em tempos de paz aquilo que a violência parece ser tão hábil em curar. Lembro-me de uma conversa em Madrid, há dois anos, com quatro jovens que falavam da forma como os pais, os avós lhes íam deixando escapar coisas. E como lhes escondiam outras. Dizia uma, que em casa dela, todos os dias tinham de se confrontar com um tipo, que era comerciante, e que tinha morto, com outras pessoas, pela calada da noite, a avó e um tio. E todos os dias, ao sair de casa, olhavam o vizinho em frente e lembravam. E calavam, com medo que o incontido da violência lhes destruísse o resto da tranquilidade das suas vidas.

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