quinta-feira, maio 04, 2006
O homem da vidraça
Numa dessas visitas ao hospital de Santa Maria reparei num homem que limpava cuidadosamente uma janela. Os vidros estavam sujos, cheios de uma poeira encardida, acumulada, que não deixava ver. Passei várias vezes por ele no percurso que tinha de ir fazendo para acompanhar os vários alunos que estavam em serviços diferentes. A uma determinada altura, olho pela janela e descubro a paisagem que se me oferecia para lá da vidraça. Um grande saguão, com as paredes do hospital envelhecidas, cinzento sujo, o metálico dos ares condicionados também ele escurecido pela sujidade e pela ferrugem. E eu, que já não sei olhar a vida mas as metáforas que ela contém, dei por mim a pensar no que teria motivado aquele homem a gastar tanto do seu tempo a tornar mais bonita e funcional aquela vidraça, mesmo sabendo que o que dela se via era desolador.
E só de pensar que naquele dia aquele homem despiu o seu fato macaco e teve um momento de contentamento ao voltar a passar pela sua vidraça, exemplarmente limpa, senti também eu uma pequena e inexplicável alegria.
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