sexta-feira, maio 26, 2006

Uma mãe assim

Ontem, ao deitar a pequena Isabela houve um pranto fenomenal. Ela tem vinte meses. Não queria dormir na sua cama, no seu quarto, sózinha. Chorava, parecia que a matavam. Eu e uma amiga dos pais, incomodados. Não disse, mas naquele entretanto a minha doce amiga Paleta adquiriu um facies faciendi de uma carniceira. Parecia-me demasiado entendimento a esperar de uma criança de vinte meses. A mãe nunca deixou de falar com a filha. No mesmo tom meigo, firme, mas meigo. Dizendo-lhe coisas incompreensíveis do ponto de vista da ordem dos discursos e da lógica. Eu estava a rebentar. Pensei em fazer uma petição online contra a mãe. Quando de repente se faz silêncio na casa. Um silêncio bom. Olhamos os dois para a reempossada mãe, outrora carniceira, damos-lhe os parabéns. Falamos sobre isso depois. A mãe diz o quanto é necessário este espaço de solidão, de solidão compartilhada. Nós aceitamos. De uma mãe assim aceitam-se todas as teorias do mundo.

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